13 de junho de 2011

Espanha anuncia prisão de piratas da Internet

A polícia da Espanha anunciou a desarticulação da cúpula do grupo de hackers "Anonymous" com a prisão de três de seus líderes. Um deles tinha em sua casa um servidor com o qual coordenava e executava ataques contra sites de todo o mundo. Entre os alvos estavam os portais dos governos do Egito, Argélia, Líbia, Irã, Chile, Colômbia e Nova Zelândia, assim como páginas de empresas, informou o Ministério do Interior espanhol.

A organização de hackers é estruturada em grupos independentes que, no momento programado, lançam milhares de ataques de negação de serviço para derrubar servidores. Em algumas casos, os ataques acontecem por meio de computadores "zumbis" infectados

A Brigada de Investigação Tecnológica (BIT) da polícia espanhola vinha analisando desde outubro de 2010 mais de 2 milhões de linhas de registro de chats e sites utilizados pela organização, até encontrar e deter sua cúpula na Espanha, que tinha capacidade para tomar decisões e dirigir os ataques. As prisões dos três líderes do "Anonymous" aconteceram nas cidades de Barcelona, Valência e Almería.

Hackers do grupo Anonymous ficaram conhecidos mundialmente em dezembro de 2010 quando atacaram a rede de computadores das empresas de cartões de crédito MasterCard e Visa, em retaliação ao bloqueio de doações para o site WikiLeaks. Os sites das empresas estavam entre os vários atacados pelo grupo, que ameaçou punir as organizações que deixassem de prestar serviços ao WikiLeaks - centro de polêmica após divulgar documentos da diplomacia dos EUA.

Em seu perfil no Twitter, a polícia espanhola revelou que o grupo perpetrou em 18 de maio um ataque contra a Junta Eleitoral Central da Espanha. Conforme a polícia, o grupo também atacou os sites da polícia da região da Catalunha (Mossos d'Esquadra) e do sindicato espanhol União Geral de Trabalhadores (UGT), assim como os portais da PlayStation e dos bancos BBVA e Bankia.

Especialista em segurança minimiza prisões

Altieres Rohr, especialista em segurança de computadores, criador e editor do site  Linha Defensiva, já escreveu que não vê muito sentido prático nas ações de repressão policial - o que incluia prisões de possíveis líderes - do grupo Anonymou. E tem uma teoria, baseada em fatos reais, que parece bem consistente. O suficiente para não deixar nenhuma grande empresa ou rede de computadores tranquilos com as prisões anunciadas pela Espanha.

O Anonymous surgiu de uma brincadeira do fórum de internet 4chan onde todas as pessoas que postam são obrigadas a postar anonimamente - daí "Anonymous", em inglês. Já que todas as pessoas ali eram "Anonymous", certa sensação de "coletividade" surgiu em seus participantes, que entenderam todos ser um único indivíduo: o tal Anonymous que "posta" todo o conteúdo do site.

Quando algumas pessoas passaram a realizar todo tipo de atividade na internet - como bullying, roubo de contas ou ataques de negação de serviço - que derrubam sites na internet - era sempre o "anonymous" que aparecia no 4chan para relatar o ocorrido, como se tudo fosse do mesmo grupo ou da mesma pessoa.

Algumas pessoas organizaram salas de bate-papo no qual membros do 4chan que participavam dessa brincadeira podiam se comunicar para melhor organizar ações em grupo. As mais notáveis foram os protestos contra a Igreja da Cientologia em 2008, iniciados depois de uma polêmica entrevista do ator Tom Cruise.

Apesar dos protestos físicos e pela internet, nada mudou na Igreja da Cientologia. Porém, outros protestos seguiram, desde o ano passado, com a história do Wikileaks e empresas relacionadas como a HBGary Federal.

No caso da Sony, manifestações foram iniciadas para tirar a rede PSN do ar como represália às ações judiciais contra o hacker Geohot, que havia feito um software de "jailbreak" do PS3 para rodar jogos caseiros. A ação não foi popular entre os gamers, nem surtiu efeito, e foi eventualmente cancelada. Depois ocorreu a invasão.

O Anonymous faz parte do "submundo" da internet, mas é o único grupo a não ter qualquer tipo de regra, causa ou lista de membros fixa. É um rótulo que qualquer pessoa pode adotar para qualquer fim. Não é possível manchar a imagem do Anonymous porque, sem membros e sem ideologia e sem causas, não há imagem para ser manchada. O histórico do "grupo" nada a tem a ver com seu futuro - conforme o rótulo ganha popularidade, aumentam as chances de pessoas sem relação com as primeiras "brincadeiras" usarem o rótulo para qualquer fim.

Um policial investigando a invasão na PSN não verá nenhuma utilidade na informação de que "foi feito pelo Anonymous". São milhares de pessoas que nem se conhecem, muitas delas nunca conversaram, e há dezenas de salas de bate-papos em que "subgrupos" se reúnem. Essa informação de nada vale.

É preciso que se pare de discutir se o "Anonymous" está envolvido. Um rótulo que não é um grupo e não pode policiar seus membros - na verdade, que nem sabe quem eles são - de nada vale. O Anonymous não pode prestar explicações. "Anonymous" não explica nada. Fica no ar a pergunta de quais foram os indivíduos responsáveis - e isso ninguém sabe.

Ter uma falsa sensação de "caso solucionado" com a explicação "o anonymous que fez" só vai servir para distrair quem ainda não entendeu que todas as pessoas são Anonymous, mas também que ninguém é Anonymous e que nada é Anonymous.

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