3 de maio de 2011

Alcaçuz em conflito

Magno Boaventura tinha vasta lista de antecedentes criminais
O pavilhão 2 do Presídio Estadual de Alcaçuz, em Nísia Floresta, foi cenário de momentos de terror e destruição no início da manhã desta segunda-feira (3). Preso decapitado e cadáver destruído, colchões em chamas e confronto com agentes penitenciários  chamaram atenção durante a rebelião. Confusão destruiu a estrutura do pavilhão e presos terão que ser relocados.
Magno Boaventura tinha vasta lista de antecedentes criminais

O detento Magno Boaventura, 33 anos, foi assassinado com características acentuadas de tortura e brutalidade. O crime se deu em meio à rebelião iniciada após tentativa de fuga frustrada por policiais militares, responsáveis pela guarda externa do presídio. Outros três apenados ficaram feridos durante a movimentação, mas foram atendidos e passam bem.

O Batalhão de Choque da PM chegou a ser acionado, mas foi o Grupo de Intervenção Penitenciária que conseguiu acalmar os ânimos e controlar a situação na unidade prisional.

De acordo com o diretor da unidade, Welligton Marques, tudo teve início quando Pms da guarita observaram fugitivos e dispararam contra eles. “A fuga foi frustrada e logo que retornaram ao pavilhão deram início à rebelião”. Colchões foram queimados, cadeados arrombados e celas depredadas.

Os 130 apenados do pavilhão conseguiram se livrar das grades e grupos rivais entraram em contato. Nesse momento, Magno Boaventura foi morto. Sua cabeça foi decapitada e o peito aberto com auxílio de facas artesanais. Os órgãos foram espalhados pelas celas e alguns deles colocados para queimar no incêndio dos colchões.

Antônio Fernandes de Oliveira, Valdicley Souza do Nascimento e Bruno Pereira Lobos foram os presos que ficaram levemente feridos e não correm risco de morte. O diretor Marques classificou o detento assassinado como “líder do lado mal do pavilhão”. “Ele possuía inimigos e tentava comandar um lado mal daquele espaço. Possivelmente, isso não foi visto com bons olhos”, afirmou.

No final da manhã, os agentes penitenciários conduziram os detentos a quadra de esportas e deram início a uma revista. Uma bomba de fabricação caseira, que poderia ser utilizada como granada, foi encontrada, além de diversos estiletes e facas artesanais.
Cabeça do presidiário foi levada dentro de um baldeCabeça do presidiário foi levada dentro de um balde

O diretor da unidade esclareceu que um buraco foi criado no muro do pavilhão e dessa forma alguns detentos tiveram acesso à parte externa. Ainda não se sabe quantos tentavam fugir já que a operação foi abortada.

O Batalhão de Choque da PM chegou a ser acionado, mas os 60 homens não chegaram a entrar no presídio, pois os agentes conseguiram controlar a situação. O delegado de Polícia Civil, Marcelo Alves de Lima, esteve presente ao local para dar início às investigações do homicídio sob responsabilidade da Delegacia de Nísia Floresta.

Antecedentes

O detento Magno Boaventura, morto durante rebelião em Alcaçuz, possuía longa lista de antecedentes criminais, cujas penas somadas alcançavam 45 anos de detenção. Transferido há oito meses do Presídio Federal de Mossoró, onde passou um ano, Boaventura possuía histórico problemático.

Ele respondeu sindicância por tentativa de fuga em Alcaçuz e já se envolveu em brigas internas. De acordo com informações da administração penitenciária, a vítima respondia por casos de homicídio, assalto e tráfico de drogas. Magno  já havia cumprido nove anos de reclusão e a partir de 2015 poderia requerer o regime semi-aberto.

Pavilhão ficou inutilizado

A destruição promovida pela rebelião inutilizou o pavilhão 2 de Alcaçuz. Os cadeados arrombados, as estruturas  das grades comprometidas, o estrago causado pelo incêndio dos colchões. A movimentação afetou também a estrutura hidráulica e não chega mais água ao setor. A descrição do cenário torna claro que os apenados não poderão voltar ao local, antes que haja uma reforma.

O coordenador do sistema penitenciário, José Olímpio, confirma a constatação da reportagem. “Não há condições de os presos retornarem agora para as celas do pavilhão 2. Precisaremos de uma reforma”, disse. Segundo ele, os detentos serão distribuídos nas celas de adaptação enquanto se toma decisões sobre a situação.

Ele esclarece que esse remanejamento pode se tornar crítico devido às deficiências já existentes no sistema. “Já temos um déficit de 3 mil vagas. Contamos com pouco mais de 5.700 detentos em todo o estado para adequar nas unidades prisionais”, pontuou.

O diretor de Alcaçuz, Wellington Marques, aponta para uma saída, mas o caminho está embargado pela justiça. A nova ala do presídio estadual em Nísia Floresta, que dispõe de 400 vagas, passou por inspeção do Ministério Público, constatando problemas estruturais.

No dia 16 de fevereiro passado, o promotor do município de Nísia Floresta, Rafael Silva Paes Pires Galvão, entrou com uma ação civil pública para garantir que apenados não fossem transferidos para o Pavilhão Rogério Coutinho Madruga, nova ala da Penitenciária. Os problemas diziam respeito à sensação térmica dentro das celas, “que ultrapassa o limite do suportável”, assim como o destino do esgoto e a ausência de reservatório de água elevado.





Fonte Tribuna do Norte

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